
Giselle
Um mergulho na tradição viva do ballet romântico
Em 2025, a Bravo! Ballet viveu Giselle em toda a sua magnitude — não apenas como espetáculo, mas como experiência estética, histórica e pedagógica.
A escolha desta obra-prima do romantismo não foi casual: Giselle reflete com perfeição o espírito que move nossa escola — a união entre rigor técnico, sensibilidade artística e profunda reverência à tradição.
A decisão de encenar este repertório nasceu também de um vínculo pessoal e simbólico. Nosso corpo docente, que já dançou Giselle em produções profissionais, trouxe ao processo o conhecimento vivo de quem carrega a memória do palco.
Para esta montagem, os professores, intérpretes e estudiosos dessa obra, ofereceram aos alunos não apenas correções técnicas, mas transmissões de saber — aquele tipo de ensino que não se lê nos livros, mas se perpetua de corpo para corpo, gesto a gesto, olhar a olhar.
As lendas que originam os ballets são tradições orais. Mas pelo gesto da dança o conhecimento se perpetua.
Cada ensaio de Giselle na Bravo! Ballet foi, portanto, uma continuidade dessa linhagem artística que mantém viva a memória do ballet romântico.
Ele mostra nossos professores revivendo, com o corpo e com a alma, uma obra que transformou suas vidas.


Por trás de cada cena de Giselle existe um universo inteiro de pessoas e talentos.
Mais de 120 profissionais e alunos se unem neste projeto:
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+ 90 bailarinos em formação
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10 professores e ensaiadores
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6 técnicos de som e luz
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15 costureiras e aderecistas
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4 cenógrafos e produtores
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3 profissionais de áudio e vídeo
Todos profissionais de dança que trabalham durante meses em um processo intenso e colaborativo que transforma a sala de aula em estúdio de criação, o ensaio em rito artístico e o palco em celebração coletiva.
Cada passo dançado é resultado do esforço conjunto de dezenas de mãos, olhares e corações que constroem a beleza de Giselle.
Figurinos desenhados e bordados à mão por ateliês especializados, cenários inspirados nas paisagens francesas do século XIX, trilhas cuidadosamente estudadas e ensaios diários refletem o compromisso da Bravo! Ballet em oferecer aos alunos uma vivência artística de nível profissional.
Um espetáculo feito por uma centena de artistas

Onde o aprendizado encontra o palco
Na Bravo! Ballet, o espetáculo é parte essencial da formação artística.
Nossa escola é uma das poucas no país a proporcionar aos alunos a vivência completa de um ballet de repertório, com pesquisa, ensaios dirigidos, construção de personagens, figurinos sob medida e apresentações em teatro com produção idêntica à de grandes companhias.
Esse processo faz com que cada estudante viva uma experiência que vai muito além da sala de aula — um mergulho na arte e na tradição da dança.
Aqui, o palco é também uma extensão do aprendizado.
Nosso objetivo é formar artistas que compreendam a dança não apenas como técnica, mas como linguagem cultural e humana.
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O que faz da Bravo! Ballet única:
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Rigor técnico e artístico
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Pesquisa histórica e coreográfica
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Trabalho colaborativo entre mestres e alunos
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Experiência de palco autêntica e transformadora

Contexto histórico
Paris, 1841 — O nascimento de uma lenda
Antes de se tornar o ballet mais emblemático do romantismo, Giselle nasceu de uma lenda germânica antiga, transmitida de geração em geração entre os povos do vale do Reno e das florestas da Boêmia.
Essas histórias falavam das Wilis — espíritos de jovens mulheres que morreram antes do casamento, traídas ou abandonadas por seus amores.
Diziam que, incapazes de encontrar descanso, elas se levantavam à meia-noite e dançavam em clareiras cobertas de névoa, vestidas com véus brancos, coroas de flores e pés descalços.
Qualquer homem que tivesse a infelicidade de cruzar seu caminho era forçado a dançar até a morte.
Essa lenda é contada no palco pela mãe de Giselle, no primeiro ato. Fique atento à interpretação de nossos alunos, que estudaram pantomima no processo do ano.
Essa figura sobrenatural — feminina, etérea, ao mesmo tempo vingativa e pura — fascinou os escritores do início do século XIX, quando a Europa mergulhava no imaginário romântico.
Foi Heinrich Heine, poeta e ensaísta alemão, quem primeiro registrou essa tradição no livro De l’Allemagne (1835), descrevendo as Wilis como “noivas do vento, que amam dançar mais do que viver”.
Anos depois, o escritor francês Théophile Gautier, ao ler esse trecho, teve a centelha que daria origem ao libreto de Giselle.
“E se uma dessas Wilis tivesse amado tanto, que fosse capaz de perdoar até na morte?”
— foi essa pergunta poética que transformou a lenda em arte.
Do mito ao palco
Gautier levou a ideia ao dramaturgo Vernoy de Saint-Georges, e juntos criaram o libreto do ballet.
Chamaram o compositor Adolphe Adam para a trilha sonora e confiaram a coreografia aos mestres Jean Coralli e Jules Perrot.
A estreia aconteceu em Paris, em 1841, no Théâtre de l’Académie Royale de Musique, com Carlotta Grisi no papel-título.
A obra unia todos os elementos que encantavam o público da época: amor impossível, natureza, loucura, morte e redenção.
Mas o que a tornou imortal foi sua heroína.
Quem é Giselle?
Giselle é uma jovem camponesa apaixonada pela dança e pela vida simples entre vinhedos e colheitas.
É também símbolo da pureza e da vulnerabilidade humanas — o amor que floresce e morre num mesmo gesto.
Quando descobre que seu amado, Albrecht, é um nobre disfarçado e comprometido com outra mulher, o choque é tão profundo que seu coração se parte, e ela morre.
No segundo ato, Giselle desperta no reino das Wilis, entre espíritos que buscam vingança contra os homens.
Mas ao ver Albrecht arrependido, seu amor resiste à dor: ela o protege e o perdoa, libertando-se do ciclo da morte.
Giselle não é apenas uma vítima — é uma força espiritual.
A mulher que, mesmo traída, escolhe dançar pelo amor, e não pela vingança.
A essência do mito
O fascínio de Giselle atravessou o tempo porque fala de algo universal: a fronteira tênue entre a vida e o além, entre a matéria e o espírito, entre a razão e o sentimento.
Na Europa do século XIX, o romantismo via na figura feminina uma ponte entre o humano e o sagrado, e a dança era seu veículo mais puro.
Em cena, o corpo da bailarina parecia desafiar a gravidade — como se o próprio movimento fosse um elo entre mundos.
É por isso que Giselle continua a emocionar plateias há mais de 180 anos: porque sua lenda é, na verdade, um espelho do que nos torna humanos — frágeis, apaixonados, e eternamente capazes de amar.


Libreto
A montagem da Bravo! Ballet preserva a tradição narrativa e musical da obra original, mas propõe uma leitura coreográfica sensível e contemporânea, adaptada para nossos elencos e faixas etárias.
Mergulhamos em pesquisas historiográficas para criar uma encenação fiel ao espírito do romantismo, sem abrir mão da clareza narrativa e da beleza visual que tornam Giselle inesquecível.
Ato I — A Aldeia e a Festa da Vindima
Em uma pequena aldeia banhada pelo sol da colheita, vive Giselle, uma jovem camponesa apaixonada pela dança e pela vida. Seu coração puro e alegre é frágil, mas contagia todos à sua volta — as Amigas de Giselle, os Vinhateiros e as Crianças da Aldeia, que celebram o fim da colheita das uvas em uma grande festa.
Entre risos e música, chega à vila um jovem chamado Loys — na verdade o nobre Albrecht, disfarçado de aldeão para viver o amor simples que não encontra em seu mundo aristocrático. Giselle se apaixona por ele, sem saber quem ele realmente é.
Hilarion, o caçador da aldeia, também ama Giselle. Protetor e impulsivo, desconfia do estranho e tenta alertá-la, mas é ignorado em meio à alegria da festa.
Durante a Festa da Uva, todos dançam em agradecimento à colheita — um dos momentos mais festivos e cheios de vida do ballet. Os Vinhateiros e Vindimadores conduzem a dança coletiva, e o tradicional Pas de Paysant é interpretado pelos aldeões que demonstram graça, virtuosismo e alegria.
Chegam então os nobres em uma caçada: Bathilde, filha de um duque, acompanhada por seu pai e pela elegante Corte de Caçadores. Em um encontro cheio de ironia do destino, Bathilde conhece Giselle e, sem saber, descobre que compartilham o amor pelo mesmo homem.
Enquanto a aldeia celebra com o vibrante Galop da Vinha, Hilarion desvela o segredo de Albrecht. A revelação destrói o coração da jovem: Giselle, tomada pela dor e pela loucura, dança até a exaustão e cai sem vida nos braços da mãe, Bertha.
A alegria se dissolve em silêncio. As flores da festa agora cobrem o chão como véus de despedida.
Ato II — O Reino das Wilis
A noite cai sobre a floresta. Os caçadores deixam o local assustados, quando surgem as Wilis — espíritos de jovens que morreram traídas antes do casamento. Lideradas pela severa e majestosa Myrtha, a Rainha das Wilis, elas vagam em silêncio, belas e implacáveis, dançando os homens até a morte.
Entre elas, desperta Giselle, vestida de branco, etérea como o vento. Agora ela é uma Wili, chamada a se unir à irmandade das mulheres que buscam vingança.
Hilarion chega para chorar sua perda, mas é surpreendido pelas Wilis, que o forçam a dançar até que sua vida se esvaia.
Logo depois, Albrecht surge, tomado pelo arrependimento. Giselle o vê e, movida pelo amor, intercede junto a Myrtha para poupá-lo.
Mesmo condenada a dançar até o amanhecer, ela o protege — seus braços se tornam escudo, e sua dança, prece.
Quando o primeiro raio de sol rompe o horizonte, as Wilis desaparecem. Giselle retorna à paz eterna, deixando Albrecht só, ajoelhado, tocado por um amor que ultrapassou a morte.
“No fim, é a pureza do coração que vence a escuridão.”
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Programa
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