Tradução do original “El sexto sentido del que habló Nietzsche y que surge con el baile” – por Jennifer Delgado
"E que seja perdido o dia em que não se dançou uma única vez", disse Friedrich Nietzsche. A dança foi tão importante para o filósofo alemão que ele a menciona na maioria de suas obras. Em "O crepúsculo dos ídolos", ele escreveu que "você tem que aprender a pensar como você tem que aprender a dançar, concebendo o pensamento como dança".
Para Nietzsche, dançar faz parte do processo de crescimento que envolve a superação de si mesmo. Dançar não é uma atividade meramente física, mas implica compreender a harmonia, libertar-se, ligar-se a si mesmo, expressar-se… Competências que também são essenciais para o pensamento e a vida.
A dança nos ajuda a processar nossas experiências e nos libertar da raiva, amargura e frustração. Abre nossas mentes e nossos corações. Tem um efeito terapêutico, como diversos estudos têm demonstrado. Também foi descoberto que as pessoas que dançam são mais felizes e mais satisfeitas com sua vida e seus relacionamentos. No entanto, talvez o mais interessante é que a dança realça um “sexto sentido”.
Raquel Castro - Bravo! Ballet
Em um estudo realizado pela Universidade de Londres, pesquisadores pediram a um grupo de bailarinos e a outro grupo de não bailarinos que assistissem a uma série de vídeos expressando emoções como tristeza ou alegria através da dança.
Eles colocaram pequenos eletrodos nos dedos dos participantes para medir a resposta galvânica da pele, um indicador das reações afetivas às emoções que eles percebiam. Eles descobriram que os bailarinos percebiam as diferenças entre tristeza e alegria na dança, mas o restante das pessoas não percebeu a diferença. Isso os fez pensar que os bailarinos são mais sensíveis emocionalmente à linguagem corporal das outras pessoas.
Por que as pessoas que dançam são mais sensíveis emocionalmente? Essa pergunta levou os pesquisadores a lançar um segundo experimento. Desta vez, eles pediram aos participantes que contassem silenciosamente seus batimentos cardíacos durante um período de tempo. No entanto, eles não podiam medir seu pulso de forma alguma, podiam apenas sentir seu coração.
Enquanto isso, registraram os batimentos cardíacos com eletrodos que colocaram no peito dos participantes. Os pesquisadores então compararam o número de batimentos que as pessoas estavam se referindo ao número real de batimentos registrados. Assim, eles determinaram a sensibilidade aos estados internos.
Eles descobriram que os bailarinos eram muito mais precisos na contagem dos batimentos cardíacos do que os não dançarinos, independentemente da frequência cardíaca. Além disso, a experiência estava trabalhando a seu favor. Bailarinos experientes podiam perceber com mais precisão seus batimentos cardíacos. Isso os levou a concluir que as pessoas que dançam têm uma interocepção mais desenvolvida.
Welton Nascimbene e Julia Togni - Bravo! Ballet
Interocepção, o sexto sentido para entender o que acontece dentro de nós
Interocepção é a habilidade de perceber e compreender nossos estados corporais internos, uma espécie de sexto sentido que não visa perceber o mundo externo, mas nosso universo interno.
A percepção dos sinais corporais, como os batimentos cardíacos, é a chave para nos tornarmos conscientes de nossas emoções e das dos outros. Na verdade, existe uma ligação muito profunda entre as emoções e o corpo. As emoções falam através do nosso corpo. É por isso que sentimos frio na barriga quando nos apaixonamos, um coração acelerado nos diz que temos medo e a sensação de vazio em nosso peito fala de uma perda.
A mente toma nota e avalia todos os sinais fisiológicos, desde dor e frequência cardíaca até a temperatura corporal, para dar sentido à experiência emocional. Assim entendemos que estamos nervosos, tristes ou excitados. A interocepção é a habilidade que nos permite perceber essas sensações viscerais e enquadrá-las em nossas experiências. Sem a interocepção, estaríamos desconectados de nós mesmos e de nosso mundo emocional.
Na verdade, a interocepção não só nos ajuda a interpretar nossas emoções, mas também a gerenciá-las. Perceber os primeiros sinais de estresse, por exemplo, nos permitirá tomar medidas para evitar que ele se intensifique. Por outro lado, se estivermos desconectados de nosso corpo, esses sinais passarão despercebidos, até ser tarde demais.
Se deixarmos o estresse avançar, ele pode interferir na percepção de nossos estados internos, como mostram pesquisadores da Universidade de Luxemburgo. Sem a interocepção, o estresse nos faria cair uma ladeira e não perceberíamos o que estaria acontecendo até chegarmos ao fundo.
Não é por acaso que a má interocepção tem sido associada à desregulação emocional, que pode acabar causando transtornos psicológicos como ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático. Em vez disso, uma interocepção desenvolvida é a base para antecipar problemas, preparar-se para enfrentar as adversidades e escolher as estratégias de regulação emocional mais eficazes para se adaptar a ambientes em mudança. Isso promove bem-estar, conexão social e um relacionamento saudável consigo mesmo.
A interocepção também nos ajuda a nos conectar com outras pessoas. Ela não só facilita a percepção das próprias emoções, mas é a chave que abre a porta para o universo afetivo de outras pessoas. Isso provavelmente se deve ao fato de que nossos cérebros representam as experiências emocionais dos outros como nossas. É por isso que, em alguns casos, podemos sentir a dor e o sofrimento dos outros, não em um sentido metafórico, mas literalmente, em nosso corpo.
Pedro Ungaretti e Ana Yazlle - Foto de Renato Hatsushi
A conexão entre a interocepção e a dança está no cérebro
E por que a dança nos ajuda a desenvolver a interocepção e, portanto, a controlar as emoções? O neurocientista Arthur Craig acredita que a chave está na ínsula. Esta é uma área do cérebro que interpreta o estado interno do corpo adicionando os sinais que vêm do sistema nervoso autônomo, frequência cardíaca e respiratória, dor, temperatura corporal ou movimentos do trato digestivo.
A ínsula também desempenha um papel importante no conceito de "eu", que se baseia em nossa capacidade de reconhecer e avaliar nosso estado corporal interno, bem como atenção, regulação emocional, percepção do tempo e tomada de decisões. Além disso, é ativada quando estamos em movimento e quando ouvimos música, o que sugere que a interocepção está ligada à consciência cinestésica e à percepção de ritmos.
Isso pode significar que a dança “refina” o funcionamento da ínsula, o que nos ajudaria a desenvolver aquele sexto sentido, que é a interocepção. Afinal, a dança nos reconecta com nossas sensações, permitindo-nos ter mais consciência de nossa corporeidade. Também nos ajuda a expressar emoções por meio do movimento, tornando-se uma válvula de escape para o estresse, angústia ou ansiedade.
Portanto, a dança treina nossa consciência corporal, preserva nossa capacidade de processar experiências emocionais e nos ajuda a nos conectar com outras pessoas. Você ainda precisa de mais motivos para dançar?
Bailarinas Bravo! Ballet - Foto de Renato Hatsushi
Link original: https://es.vida-estilo.yahoo.com/bailar-sexto-sentido-interocepcion-083748813.html?guccounter=1
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